Blog As emoções na mediação

CEO da Hewysa RH Innovation

É habitual o surgimento de emoções nas mediações, tanto nos mediados quanto no mediador e são percebidas por mo­dificações nas expressões, no comportamento, na cristaliza­ção de idéias e na impossibilidade de ouvir uns aos outros.

Essas atitudes que algumas vezes se expressam pelo ner­vosismo, outras pela tristeza ou, em geral, pela fixação nas posições apresentadas, são atribuídas às emoções que modificam o pensamento e podem até anular toda capacidade crítica. Emoções, sentimentos ou afetos são os nomes dados a esses fenômenos, usados, muitas vezes, como sinônimos e em outras diferenciados, segundo os autores. Pensamos que as três denominações fazem parte do mesmo processo em diferentes momentos: iniciando-se com o sentimento, ou seja, a percepção que atinge um ou mais sentidos e que leva ao sentir; o afeto enquanto uma modificação que se produz em quem sentiu de modo a afetar um determinado equilíbrio ou ordem; e, finalmente, a emoção que seria o resultado dessa modificação, o movimento a que nos conduz o percebido.

De todas as formas, as emoções têm sido objeto de estu­do desde os primeiros pensadores e cientistas até os atuais. Segundo a moda ou ideologia do momento, elas foram rejei­tadas ou exaltadas.

Não podemos deixar de reconhecer que ainda hoje, nos meios profissionais, as emoções são rejeitadas e considera­das como parte da fraqueza humana.

As maiores dificuldades que se apresentam na procura das soluções dos conflitos têm origem na perda do respeito, na insegurança, no temor da perda e, fundamentalmente, no desejo de vingança dos mediados.

A vingança é um estágio posterior à emoção, pois a perda sentida tanto no plano do ser quanto do ter, já pode ser pensada e não só percebida como causada pelo outro. Essa fixação na qual o sujeito ocupa a posição passiva de vítima, enquanto o outro é vivido como o agressor, causador de todos os males, se cristaliza no desejo de transformação passivo-ativo, ou seja, a tentativa de ver o outro sofrendo o mesmo que ele. Recuperar o equilíbrio anterior significa ob­ter não só o perdido, mas conseguir que o outro perca, no ter e no ser: a destruição do outro. Essa fixação impede a visualização do problema como uma dinâmica da relação e passa a ser vivido como o triunfo sobre o outro. Esta é a mais comum das manifestações das emoções, levando-se em con­ta o processo de resolução de conflitos que, precisamente, afasta as pessoas do objetivo que dizem procurar.

As emoções fazem parte da natureza humana, por isso a sua manifestação, tanto nos mediados quanto no mediador, é absolutamente natural e coerente com o trabalho de dialogar sobre os problemas na busca por soluções.

Por sua vez, o mediador deve, através da auto-observação, perceber suas emoções para também poder integrá-las em seu trabalho.

Consideramos que alteração corporal pode ser chamada de sinal de alerta assimilada ao nosso conceito de temor ou medo de perder alguma coisa. Segundo a característica do percebido, existem três modos possíveis de reação: a fuga, a paralisia ou o ataque.

São os três protótipos reativos que mais comumente se apresentam. Os que não podem enxergar ou falar sobre o problema e podem não se apresentar para a mediação; os que não podem pensar nem reagir frente ao problema; ou os que reagem agressivamente gritando ou tentando bater nos outros.

Primeiramente o que o mediador deve tomar em consi­deração é que qualquer que seja a expressão, a base de todas elas é o medo que sentem de perder parte de sua identidade, tanto no ser quanto no ter.

Ainda que apresentado anteriormente, reiteramos o nos­so conceito de identidade como base de sustentação desse trabalho. Identidade do ser é aquela que se refere à identifi­cação pelo relacionamento com o outro: Ser a mulher ou marido de tal pessoa, ser funcionário de tal empresa, ser o profissional reconhecido por tal ou qual associação profissi­onal. Quando tais identidades são questionadas através da separação do casal demissão da empresa, ou afastamento da associação profissional, dizemos que se trata de uma perda de identidade no ser. Quando a perda está relacionada à perda de objetos materiais ou possíveis de serem quantificados, dizemos que a perda de identidade é no ter.

Em qualquer situação de inter-relação e em particular na prática da mediação nós lidamos permanentemente com as emoções (as nossas e as dos outros). Cada um de nós tem uma “porta de entrada” emocional; alguns de nós permanentemente criamos ou “pedimos” aquela emoção que nos alimenta. Não estamos necessariamente sempre alegres ou sempre tristes, ou sempre com raiva. Como já dissemos, as palavras são apenas rótulos para pontos extremos de movimentos.

Podemos observar que a alegria tem uma qualidade de expansão multidirecional, ascendente. Já a tristeza, pelo con­trário, é de natureza descendente e mais centrípeta. A raiva tem uma direcionalidade definida, tem que ser expressa com a qualidade direcionada e ascendente. O medo, pejo contrário, é descendente, com uma qualidade de tremor in­terno e instabilidade. A empatia, pelo contrário, corresponde a um movimento mais circular, mais envolvente que dá segu­rança.

E então? … Como saber reconhecer essas emoções em nós e nos outros?